No ano do bicentenário de nossa independência, temos muito a comemorar pelos avanços que a Armada Imperial apresentou desde 1822 ao corrente.
Forjada nas diversas batalhas que se seguiram ao grito do Ipiranga, passando pela participação em ambas as guerras mundiais e pela participação ativa e perene nas missões de paz, os navios brasileiros singram os mares do mundo, deixando para trás um rastro de bons serviços ao povo brasileiro.
Como primeira tarefa, coube à Armada Imperial expulsar os portugueses que aqui resolveram ficar, contribuindo para que as Cortes lisboetas exercem seu nefasto controle sob Pedro I. Subindo a bordo da fragata União, caberia ao próprio monarca expulsar as tropas de Avilez do Brasil, exigindo sua retirada para as águas do Tejo. Mais tarde, esquadra comandada pelo Almirante Cochrane, após exercer pesado cerco, enviariam um comboio de 86 navios para Portugal, tendo como comandante o General Madeira de Melo. Escoltando os navios portucalenses, e subordinado a John Taylos, o comandante da corveta Niterói, velejava atento Joaquim Marques Lisboa, o futuro Marquês de Tamandaré.
Após as lutas que consolidaram nossa independência, daria a Armada Imperial diversas alegrias ao povo brasileiro ao defender nossa soberania frente às ameaças impostas pelos caudilhos sulistas da Argentina e do Uruguai. As Batalhas de Tonelero e Paysandu permitiram ao Brasil mostrar-se como grande país do Cone Sul, impedindo que futuras aventuras fossem perpetradas por governos que, cedo ou tarde, desejariam contrapor-se ao cenário pacífico que lhes brindava o Império. A atuação da Armada Imperial nas Batalhas de Riachuelo e Humaitá na Guerra do Paraguai garantiu a manutenção do controle dos rios na Prata, fato que contribuiu para o a queda de Solano Lopez.
Durante a República, a Marinha do Brasil não teria o mesmo tratamento com que foi tratada no império. Basta verificarmos que os navios adquiridos na década de 1900 chegaram a 1917 muito mal conservados, sem que conseguissem realizar a viagem Rio x Dacar. Esta morosidade impediu uma atividade mais condizente com o tamanho do país na Primeira Guerra. Na Segunda, em piores condições, sequer levar nossos pracinhas à Itália conseguiu. Apesar dos diversos planos de modernização, seguem os meios navais muito pouco atualizados com relação aos seus congêneres. Mesmo se comparados aos meios latino-americanos, não estamos em posição confortável.
A formação de uma Marinha deve ser encarada como um projeto de Estado, algo perene, que não flutue de acordo com as querelas dos partidos ou as modas populares. Possuir uma Marinha é essencial para se garantir a liberdade da navegação, a soberania de nossas águas e a ajuda aos países desafortunados que se abatem por desastres naturais, instabilidades políticas e sociais, ou que são assoladas por ditadores e caudilhos que se pretendem acima do bem e do mal. Acima de tudo, a letalidade do poder naval é essencial para impedir que outras potências nos roubem riquezas animais e minerais.
Faz-se mister, portanto, que o Estado do Brasil passe a adotar uma medida constante para com a Marinha do Brasil. Em primeiro lugar, deve haver uma política de perenidade orçamentária para construção (evitando-se aquisições) e manutenção de navios da esquadra, o que permitiria melhores condições de se realizar um planejamento de substituição de ativos navais. Em segundo lugar, deve-se buscar dinamizar a indústria naval, dando aos estaleiros e arsenais condições mercadológicas e tributárias adequadas ao seu desenvolvimento. Em terceiro, e não menos importante, devem os diversos ministérios trabalhar juntos para que tecnologias de uso em navios sejam utilizadas de forma dual, dando ao povo brasileiro empregos e facilidades hoje inexistentes.