
Negligenciando durante décadas a necessidade de se planejar como Estado, o Brasil de hoje se vê sem saída para o desenvolvimento sustentável e o aumento da produtividade, com resultados maléficos ao bem-estar e ao futuro da nação. O jeito correto de se cuidar das coisas da polis (de se fazer política) precisa voltar a motivar os ditames de nossos representantes na Capital Federal. Disso, o que não falta são benfazejos exemplos, concentrados, talvez não por acaso, em nosso perído imperial.
Derivamos de raças de homens que se superaram para sobreviver. Seja pelas agruras da vida silvícola, seja pelo sofrimento atroz dos navios negreiros, ou pelas duras viagens da Europa a terra brasilis, o povo brasileiro foi miscigenando-se e amalgamando os metais que o formava. Esta liga metálica brasílica guiou os passos nacionais pela expansão de Tordesilhas a Madri, pela pacificação das revoltas regenciais e nativistas, pela estabilização do Cone Sul, e pela delimitação de nossas fronteiras. Atrás destes movimentos sociais, guiando-os de maneira silente e perene, sempre estiveram os grandes estadistas de nossa história.
O primeiro, sem sombra de dúvidas, foi José Bonifácio de Andrada e Silva. Santista, seguiu o exemplo de muitos homens do “Estado do Meio” partindo para Coimbra onde se formou em Filosofia e Ciências Naturais. Grande mineralogista (provável descobridor do lítio), fez amizades com filósofos e cientistas de seu tempo como Humboldt e Kant. Contra as tropas napoleônicas liderou um Batalhão Acadêmico, voltando ao Brasil já velho para ajudar na libertação de nosso país. Foram dele os primeiros esforços para nossa independência além da criação do Exército e Armada Imperiais.
Bonifácio não se limitou a pensar o Brasil independente. Sonhava em vê-lo grande, com uma raça forjada pela amálgama de índios, negros, portugueses e imigrantes. Foi o primeiro a perceber os reflexos nefastos da concentraçao de rendas nas mãos de poucos, o que à época representava a concentração de terras. Sua visão de futuro via a necessidade de se mudar a matriz comercial brasileira para uma mais amistosa à indústria, e já falava, em 1822, no transporte da capital para o centro do território.
Em seus escritos, pode-se ver desde a preocupação com o desenvolvimento do Brasil, até a vontade de se fazer aqui uma potência global: a formação das forças armadas, e estabilização da ordem interna, a manutenção das relações exteriores e o desenvolvimento econômico foram tópicos por ele bastante desenvolvidos. Apesar de sua veia despótica, observou de perto a criação da Armada Imperial, chegando a pedir aos brasileiros uma contribuição monetária para a manutenção e construção de navios, no que foi amplamente atendido. Pensava Bonifácio, inclusive, na instalação de uma Universidade no Brasil, ideal habilmente tolhido pelas Cortes portuguesas.
Certamente que não foi Bonifácio o único dos estadistas que a terra brasilis testemunharia: Marquês do Paraná, Visconde do Ouro Preto, Visconde e Barão do Rio Branco, além do Visconde do Uruguai, representariam o melhor com que a casta política brindaria o Brasil, Império e República. Depois de Paranhos Júnior, entraria o Brasil em um jejum demeritório de grandes homens, quebrado de tempos em tempos. Vários fatores contribuiriam para isto: a falta de uma boa educação formal universal, a tacanha visão de longo prazo de quatro anos de nossos políticos, objetivos governamentais pífios…talvez o pior de todos seja a falta de visão de futuro. De uma hora para outra, com a morte do Barão, mergulhou nosso país em um êxtase de homens que não viam o Brasil como gigante, mas sim como emergente.
Esta visão continua, e é refletida na falta de Projetos de Brasil. Não se desenvolve a logística, o escoamento da produção, a indústria naval…não se pensa em aumentar a produtividade da economia para que sejam gerados mais empregos, ou no desenvolvimento de forças armadas capazes de se projetar alhures e defender valores e princípios caros aos brasileiros. Continua o Brasil a patinar nos números do desenvolvimento humano, e a escorregar feio nos exames internacionais de educação.
Sem um projeto, um programa, uma cartilha que possamos seguir, e sem um homem capaz de pô-la em prática, está fadado o Brasil a continuar a ser sempre o país do futuro, e o futuro destinado a sempre dele fugir. Precisamos urgentemente de estadistas que tenham, em primo, a mentalidade de que o Brasil precisa se desenvolver, e não ficar perdido em discussões que nada farão para melhorar as condições gerais da população.
Um comentário sobre “Um país sem estadistas é um país sem futuro”