Direita e Esquerda

Por Liam Bourn | Follow @Liam Bourn on Twitter and Gettr

A simplista e reduzida linguagem política “Direita e Esquerda”, que, apesar de útil em algumas circunstâncias quando aderida honestamente pelas partes, na maioria das vezes, é um argumento de alienação e empulhação da erística político-ideológica.

A dicotomia foi estabelecida no Reino da França para definir, a um, os girondinos, os agentes políticos favoráveis ao monarquismo, à ética tradicional, ao senso histórico-nacional e à moral da religião cristã, mas que defendiam a implementação de reformas adequadas e necessárias.

Uma delas era a implantação da Monarquia Constitucional, no ritmo do consolidado exemplo do Reino Unido da Grã-Bretanha. O francês François-René de Chateaubriand chamou esse estado de espírito de conservadorismo; inaugurando, portanto, no mundo da política ocidental o conceito.

E, a dois, definiu o lado dos jacobinos, composto de intelectuais ideólogos e jornalistas agitadores (financiados pela elite burguesa), militantes e parte do povo. Eles defendiam a desconstrução das tradições, do Cristianismo, da monarquia francesa e a revisão histórica da nação.

E, depois, reconstruiriam o novo Estado baseado na ideologia do momento e nos valores de uma nova religião (Culte de la Raison), sem a menor experimentação consuetudinária, por um processo de concentração de poder e sob a justificativa de um futuro utópico autoprorrogável.

Filosoficamente, e não ideologicamente, há uma clara lógica espiritual opositiva entre os dois espectros. A clivagem Direita (conservadorismo, monarquismo e tradicionalismo) e Esquerda (revolucionarismo, republicanismo e modernismo) não tem nada a ver com a baixa linguagem atual.

Essa originalidade prevaleceu, basicamente, apenas no UK e EUA, este que, inobstante a Revolução Americana, que estava mais para uma rebelião de independência, adotou uma razão empírica (conservadora) e religiosa para fundar as instituições do país, como destaca Benjamin Morris.

Na Europa Continental, porém, a partir do eixo franco-germânico, a mentalidade revolucionária se espraiou por toda a região, de modo que a Política, o Direito, a Economia, as Humanas em geral, foram dominadas pela ética modernista, desconstrucionista, coletivista e negativista.

E, à proporção do tempo, até mesmo as Exatas e as Biológicas foram contaminadas por ideologias (sistema de teorias de gabinete que visam a tomada do poder e a reconstrução social), passando veicular teses de uma visão ilógica (lógica dialética) e antirrealista (pós-modernismo).

É claro que existiam oásis no Continente que negavam, ao menos, o revolucionarismo e o coletivismo nos argumentos, como romancistas russos de influência ortodoxa, juristas franceses e filósofos alemães de formação tomista e economistas austríacos de concepção liberal clássica.

Logo, é desonesto ou, no mínimo, estúpido enquadrar o revolucionarismo, isto é, o coletivismo, o modernismo, o antropocentrismo, o conflitismo, o republicanismo, o materialismo, o racionalismo radical das ideologias (nazistas, fascistas, marxistas etc.) em espectros diferentes.

Embora rejeitem, em comum, o tradicionalismo, o monarquismo, o realismo filosófico greco-romano, a moral transcendental cristã, a retórica ideológica dos revolucionários continua a associar os seus internos opositores revolucionários a seus externos opositores conservadores.

O único argumento teórico que os “progressistas” justificam que há revolucionários direitistas é baseado no nacionalismo em oposição ao internacionalismo e igualitarismo. Ora, os próprios jacobinos eram nacionalistas revolucionários e pregavam igualitarismo entre os nacionais.

O maoísmo, derivado do stalinismo (nacional-comunismo), é nacionalista revolucionário: apregoa o igualitarismo entre os nacionais e xenofobia aos estrangeiros. E o stalinismo é a adaptação do fascismo (nacional-socialismo) com seu conflitismo entre nações burguesas e exploradas.

O natural e lógico nacionalismo, o tradicional, o moderado, o romântico ou o patriota, nos termos de J. H. Billington, é muito diferente do ideológico do integralismo francês e italiano, do comunismo stalinista, que são radicais, conflitivos e, portanto, imperialistas.

Tanto o fanático quanto o ignorante político que seja “progressista” nega essa argumentação, seja ele semiletrado ou catedrático, pois é uma pessoa psicologicamente adoecida por causa do embevecimento ideológico: as emoções humanas sequestraram o controle do intelecto.

O homem ideológico confunde, efetivamente, sentimento com pensamento, opinião com fato, de tal maneira que só – e somente só – intelige o mundo sob a perspectiva do pertencimento grupal, do etiquetamento partidário e do egocentrismo ideológico.

É dizer, a sua cosmovisão é estreita, seletiva e metonímica, visto que a realidade só é explicada pelo recorte oportuno da ideologia eleita e predominante. É dizer, é justo, verdadeiro e bom aquele que comunga com as suas crenças.

É injusto, falso e mal aquele que não comunga com suas ideias. Não é uma visão só subjetiva e histérica, mas primitiva e tribal. Absorto, ele resta por perder a percepção objetiva da realidade e do senso de justiça e moralidade, e transforma-se em um ser instintivo e animalesco.

O pensamento metonímico das ideologias (religiões políticas) foi rastreado por Voegelin como herança intelectual do gnosticismo, o movimento religioso que considerava o mundo criado por Deus como originalmente mal e o homem o centro da salvação universal.

O antropocentrismo das ideologias não guarda relação com o conservadorismo (razão indutiva), que aceita a falibilidade humana, de modo a evitar qualquer conceito filosófico de pôr o homem, elevado ao poder central, usurpando o trono divino, como o salvacionista da utopia terrena.

Nem Jesus, o baluarte da moral cristã, teve a personalidade luciferiana de usurpar o trono de Deus e antecipar o paraíso cristão na terra, pois o Reino Dele não era deste mundo, dava a César o que era de César e distribuía os talentos conforme os atributos individuais de cada um.

O ideológico, a depender do momento político e da conjuntura social, será o primeiro a se unir à massa conduzida por um Estado autoritário, centralizador, planificador e luciferiano a se dispor como ferramenta de barbáries humanas em nome da causa política da última hora moderna.

A verdade é que a dicotomia Direita e Esquerda é simplista e pueril, que só serve à linguagem de demagogos revolucionários, como Hitler, Stalin e cia e os neomarxistas frankfurtianos, e populistas de republiquetas para etiquetar opositores e ludibriar eleitores como homens-massa.

“É terrível ouvir, uma e outra vez, que o nacional-socialismo foi um retorno à barbárie, à Idade das Trevas, a tempos antes de qualquer novo progresso em direção ao humanitarismo, sem que esses palestrantes sequer suspeitassem que é justamente a secularização da vida, que acompanhava a doutrina do humanitarismo (antropocentrismo), o solo em que um movimento religioso anticristão, como o nacional-socialismo, conseguiu prosperar.” – Eric Voegelin

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