Saudades do que nunca vivi. Este é o Brasil que lutamos para recuperar.
Por Melo Morais Filho / Repost @brazil_imperial on Instagram
“A noite de Natal no Rio de Janeiro era a festa das crianças e das mães; dos venturosos da sorte e do escravo, que já tinha quem lhe recolhesse as lágrimas aflitas e os gemidos sem echo na treva das senzalas.
Nesta capital e nos subúrbios as festas do Natal eram amplas e características. E que nem sonhavamos de pedir ao estrangeiro, no país das florestas, a tola e raquitica árvore do Natal, para simbolizar as galas de que se revestira a natureza no nascimento d’Aquelle que vinha em nome de Deus.
A Missa do Galo punha em revolução casas inteiras: velhas, moças, meninos e rapazes, ninguém dormia, ninguém se ocupava com outra coisa qualquer. Certa parte da população, porém, preferia armar o trono do Menino,, passar a noitada entre cantigas e danças, visitar o presépio. Nas freguesias e nos conventos, as pompas religiosas que iriam ter logar faziam sair fora dos hábitos regulares as comunidades, os vigários, o pessoal subalterno do culto.
Na Capela Imperial, apenas batia meia noite, a multidão quasi que não se podia mexer no corpo da igreja; os músicos apareciam no côro, afinavam os instrumentos; as sentinelas, postadas em determinados lugares. descansavam as espingardas, cujas baionetas espelhavam aos jorros da luz. Então, as ondas do povo afastavam-se á direita e á esquerda, oferecendo passagem ao santo bispo, que ia solene oficiar.
Em outro tempo, quanta autonomia em nossos costumes! quanta alegria íntima não ia no coração d’este povo, que confiava nos seus destinos! Mas o Rio de Janeiro, como quase todo o Brazil, tem esquecido as suas tradições e os seus costumes. A festiva noite de Natal já não é como antes.”
Texto dos Livros: Festas populares do Brasil, Rio de Janeiro, 1888 e Festas do Natal, Rio de Janeiro, 1895 do poeta, cronista e folclorista Melo Morais Filho.