O Fico foi a largada para a Independência. Que o evento de hoje, tão simbólico, seja um sinal da restauração do governo de direito do Brasil.
Trecho do ‘Memorial da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos’ da lavra do Capelão, Cônego Dr. Olympio de Castro, publicado na edição comemorativa do Ano Santo de 1925 pelo “Jornal do Comércio”.
O manifesto, aprovado unanimemente a proposta da Mesa Administrativa dessa Irmandade, que fosse anexado, in fine, de todos os Compromissos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, “ad perpetuam rei memoriam”.
“Por ocasião das festas centenárias, numa bela expressão de solidariedade com o poder civil a Igreja, por intermediário do Exmo. Arcebispo Coadjutor, associou-se a essas solenidades determinando, entre outras prescrições, conferências cívico-religiosas, nos dias 7 de cada mês começando em 7 de Fevereiro e terminando em 7 de Setembro, dia comemorativo da gloriosa data nacional.
Foram indicados os templos, em que se realizariam as referidas conferências, ficando, porém, em olvido o templo da Irmandade dos Homens Pretos. Ao irmão Juiz, entretanto, que com isto se mostrara triste, disse um outro irmão: ‘Embora em a nossa Igreja não tenha sido indicada para uma das conferências, figurará todavia, nas festas centenárias no lugar em que a nossa História lhe reserva’. – E assim foi!

O eminente Prefeito, Dr. Carlos Sampaio, iniciou as solenidades no velho templo, mandando aí celebrar missa solene no dia 9 de janeiro, à qual compareceu o mundo oficial e o povo em massa, compacta, inaugurando após a placa comemorativa do fico, que se acha na fachada do seu frontispício, sendo orador oficial o egrégio Coelho Neto, de cuja formosa oração destacamos os seguintes tópicos:
O Fico foi a primeira estaca sobre a qual se construiu o edifício da Pátria. A Casa Santa em que nos achamos, pobre como a lapa de Bethlehem, foi à escolhida pela Liberdade para seu berço, e, desde então, como nela se houvesse ficado o germe dessa grande fôrça d’alma, sempre que houve de manifestar-se em glória, foi daqui que partiu.

Daqui foi ela, com Clemente Pereira e os demais homens bons da cidade, buscar a palavra enérgica, que se tornou a senha da Independência do Brasil; daqui partiu, pela segunda vez, para outra libertação, a dos escravos.
Bendita e louvada sejas, casa de tão sublimes milagres; Lar da Senhora, cujo rosário, que parece feito de estrelas propícias, toda vez que uma delas corre pelo fio que as engranza marca uma conquista, como a que hoje celebramos ou que havemos de festejar, quando sorrirem entre flores os dias do mês Mariano.
Bendita sejas, casa de simplicidade e agasalho divino; grande, ainda que de aparência humilde, como, na sua pobreza obscura e agreste, é maior e mais opulenta do que qualquer basílica a furna de Bethlehem. De ti saiu a Redenção apregoada pelas vozes altíssonas do povo.
No teu Consistório modesto nasceu entre patriotas, que eram os pastores que então guardavam o campo e defendiam as investidas acirradas das alcateias vorazes o rebanho o povo, o que devia crescer em meses e abrir-se no tempo em que, entre nós, floresce a primavera, para resgatar a terra e dar surto às almas. Não lograram os tiranos matar energia vivaz…
Decorrem os anos e o velho templo aí está a recordar as glórias do passado; guardando as tradições, em que nos embalam as doçuras do amor à Pátria e a Religião. Os Homens Pretos, como há quase dois séculos, repetem ainda na sua Sacristia o tradicional Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, e veneram com o mesmo afeto à Virgem do Rosário e ao seu gloriosos servo São Benedito!…
Conego Dr. Olympio de Castro – Capelão “Na fachada dessa Igreja está a placa em bronze do escultor Rodolfo Bernardelli, mandada esculpir pela Prefeitura do Distrito Federal, em memória da data de 9 de janeiro de 1822.

A placa ainda permanece no mesmo local de antes do incêndio, do lado esquerdo da porta principal. Ela foi inaugurada há cem anos, em 9 de janeiro de 1922, com a presença do Presidente da República Dr. Epitácio da Silva Pessoa, Ministros de Estado, representantes da Justiça, da Administração e do Prefeito do Distrito Federal, Dr. Carlos Cesar de Oliveira Sampaio.
A placa tem um medalhão com a efígie de José Clemente Pereira, de quem também lembramos nesta data. José Clemente Pereira foi um magistrado e político português de alta relevância para o Império Brasileiro. Liderou as manifestações populares do Dia do Fico.

Foi Deputado Geral, Ministro dos Estrangeiros, Ministro da Justiça, Ministro da Guerra, Conselheiro de Estado, Ministro da Fazenda e Senador do Império do Brasil de 1842 a 1854. Foi Provedor da Santa Casa de Misericórdia e sua viúva foi agraciada com o título de Condessa da Piedade.
Nota da Tribuna de Santa Cruz: na data de hoje, 9 de janeiro de 2022, bicentenário do Fico, o Círculo Monárquico do Rio de Janeiro, na pessoa de seu venerável Chanceler, Bruno Helmut, acompanhado da direção do CMRJ e dos monarquistas presentes, recebeu o príncipe Dom Fernando, representando S.A.I.R Dom Antonio e D. Christine, ausentes por problemas de saúde.
