Por Liam Bourn on Twitter @LiamBourn
Jornalistas, influenciadores digitais e pedantes em geral andam a pregar estereótipos ginasianos e desinformação sobre esse pensamento como fosse um ideal caricato de medievalistas ou de burgueses opressores. É bom desmistificar tais simplificações.
Antes de tudo, é imperioso explicar o motivo do surgimento do conservadorismo. Ele é fruto de uma reação intelectual aos ideais da Revolução Francesa, às closet theories apregoadas pelos jacobinos, que motivados na razão e inspirado na idade das luzes, pretendiam refundar a sociedade francesa não a partir de suas experiências sociais e causalidades históricas, mas da dedução de teorias elaboradas diretamente de gabinetes. Elas surgiram no contexto da crise econômica francesa e das absurdidades da corte do autoritário e perdulário Luís XVI.
Eufóricos com os ideais da moda, como o racionalismo, o liberalismo (inglês) e o americanismo, os franceses pretendiam redesenhar o seu novo Estado a partir da razão humana.
Isto é, toda a moral, cultura, religião, leis e instituições deveriam submeter a um processo de revolução. Tudo seria destruído, substituído e redesenhado segundo as teorias abstratas, a partir de um poder direto, forte e controlador exercendo de cima para baixo.
Inobstante negarem a monarquia tradicional, os jacobinos, em verdadeiro processo autocontraditório, para levar a cabo as suas pretensões fanáticas, eram não só mais autoritários, mais brutais e sanguinários em relação à monarquia.
É por isso que o iluminismo francês é chamado de iluminismo construtivista, pois visa reconstruir a sociedade partir de uma razão subjetiva, abstrata e dedutiva.
Edmund Burke, o pai do conservadorismo clássico, um liberal como Locke, então, se opôs às closet theories (em sua definição) porque eram fruto de uma abstração mental de idealistas pretensiosos, e não de um processo objetivo, empírico e intuitivo, de uma marcha civilizacional como fora o exemplo de sucesso do Reino Unido.
Como um intelectual membro do Parlamento, Burke eram um homem versado na História do seu país, desde o processo fundante, a saber, das experiências primitivas das Village Moot, Shire Moot, às bases da Witenagemot, seguindo do desenvolvimento dos eventos liberais da Magna Carta de 1215 e do Bill of Rights de 1689, em uma marcha experiencial e costumeira, não só de vitórias, mas de derrotas, porém, conservando as bases culturais, sociais e filosóficas dos povos britânicos. Não revolucionando no sentido francês, mas reformando o que deve ser reformado, progredindo e evoluindo, mas conservando os alicerces construídos pelo empirismo histórico, em uma edificação de baixo para cima.
Eis a diferença do espírito dos anglo-americanos para as franceses.
Os primeiros deflagraram suas revoltas em busca da liberdade contra um poder arbitrário, mas não destruíram suas tradições e conquistas anteriores. Antes, mantiveram as bases e os modelos, mas, reformado e soberano.
É a diferença do iluminismo inglês e americano para o francês.
Apesar de ter sido definido por Burke, esboçado por Tocqueville e outros, o conservadorismo político, como ética, já era vivido desde os primórdios da Inglaterra, inclusive pelos iluministas ingleses, os liberais Locke, Smith e Hume que prestigiavam a razão, sem desprezar a importância da religião, da cultura e do procedimento de aprendizagem histórica e empírica de sua nação. O mesmo pode se dizer de Thomas Jefferson e Benjamim Franklin. Todos eles acreditavam no direito à liberdade, à vida e à propriedade (e à felicidade) como valores.