A coluna arte & Reflexão desta semana relembra a elegância e a beleza inesquecíveis de Eva Wilma e o mestre da alegria, Paulo Gustavo que deixaram o Brasil menos bonito com sua partida.
Há poucos dias fomos surpreendidos pelo falecimento de Eva Wilma. A querida atriz nos deixou com idade avançada – 87 anos, ao contrário de Paulo Gustavo – 42 anos, que além da saudade e da tristeza, nos legou um grande sentimento de frustração. Frustração pela juventude que nos traiu, pela alegria que se foi e pelo sucesso que acabou no auge. Ambos faziam parte da nossa vida, da nossa história, dos nossos bons momentos. Eva Wilma teve longos anos de carreira – começou em 1952 e foi a primeira protagonista de “Mulheres de Areia”, novela de Ivani Ribeiro cujo remake fez um grande sucesso no horário das 18h da TV Globo, com Glória Pires como protagonista e direção de Wolf Maya.
Eva contracenou com seu marido, Carlos Zara, par romântico na trama dirigida pelo próprio em parceria com Edison Braga. É possível ver algumas cenas de Eva nos papéis de Ruth e Raquel, na internet. Foi dela também o papel de Dinah em A Viagem, também de Ivani Ribeiro e novamente um remake de estrondoso sucesso. Grandes autores/ grandes atores- atrizes/ grandes diretores/ grandes sucessos. Esta é a fórmula com a qual nós nos acostumamos. O Brasil pode se orgulhar da sua arte e de seus artistas. Temos uma televisão que é referência no mundo, nossas novelas vão longe. A beleza e elegância da nossa grande dama viajou para muitos países e com certeza encantou a muitos.
Eva fez parte de uma geração de mulheres elegantes – “mais talento e menos botox”. Nada contra o botox, nada contra a estética, ao contrário, apenas destaco um perfil de atrizes que eram menos assoladas pelas exigências da TV atual. Não dá para esquecer da poderosa vilã Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque, que fez em A Indomada e que até hoje faz parte das rodas de conversas entre amigos. “Era de ouro da TV, direção da dupla Paulo Ubiratan – Marcos Paulo. Também tive o prazer de vê-la ao lado de Nathália Thimberg em “O que terá acontecido a Baby Jane?” no Teatro Net Rio há uns três anos. “Teatrão”, ou seja, espetáculo para grandes interpretações.

Um show de ambas, na adaptação do filme estrelado por Betty Davis e Joan Crawford, de 1962. A direção ficou por conta da ousada dupla Charles Moeller e Claudio Botelho, na primeira empreitada dramática da carreira. Mais um vez foram muito felizes e o público também. A relação de ódio-inveja vivida pelas duas irmãs, ex-estrelas de Hollywood obcecadas pelo sucesso perdido é cheia de dores e rancores. Por mais que a TV e o cinema tenham seus lugares no mundo do entretenimento e no coração do público, nada supera estar diante da cena viva. E do ator que nos preenche com sua voz, seus gestos e seu amor pelo ofício. Teatro é lindo e necessário.
Paulo Gustavo também veio do teatro e mais uma vez tive o prazer de estar lá. Vi Minha Mãe é uma Peça na Barra, no teatro Barra Square. Lembro de estar bem na frente e ter me divertido muito. Isso foi em 2009. Desnecessário contar o que aconteceu depois; o sucesso teve data apenas para começar. Foi interrompido brutalmente e deixou um vazio no coração de muitos fãs, de todas as idades e classes. Ele (ou Dona Hermínia) era quase uma unanimidade. Seu humor leve conquistou espaço com a fórmula “comédia romântica familiar”. Vai ser difícil superar ou se aproximar de sua popularidade. Nosso cinema não ficará órfão; talento há de sobra no Brasil; mas o lugar de cada um é único e insubstituível.

O carisma, a graça e identidade imediata do tema “mãe” transformaram-no num dos maiores blockbusters do país e “amigo de todos”. O filme já estava na terceira versão – assisti os três – mas ele era uma máquina de criar: “Vai Que Cola”, por exemplo, além de programa virou filme. Não dá para esquecer sua afinidade com a atriz Mônica Martelli, amiga e parceira, nos filmes da grife “Eles são de Marte”… O teatro é mesmo a grande escola do ator. Ambos criaram seus projetos e deram certo. A formação cultural somada à observação da própria vida deram-lhe “o ponto de virada”. Dona Déa Lúcia disse, na entrevista ao Fantástico que ele estreou e morreu num mesmo dia 04/05. Alegria era a sua missão.
Paulo Gustavo se tornou enorme, assumiu sua natureza criativa, debochada e levou-a ao limite. “Esticou a corda” no melhor sentido da palavra e conquistou o país. Deixou sua marca na história do humor brasileiro, junto com Chico Anysio, Mussum, Zacarias, Bussunda, Rogério Cardoso, Guilherme Karam e tantos outros. Eva Wilma também: como ela, quantas saudades nos deixaram Dina Sfat, Marília Pêra, Eva Todor, Yara Amaral e tantas e tantas queridíssimas atrizes inesquecíves. Não dá para citar todas, vai ficar cansativo. As grandes damas estão em escassez. Quanto aos comediantes, por favor, cuidem bem de nós. Precisamos sorrir.
Viva o Brasil, o gigante desperto que dentro e fora de suas fronteiras, exporta beleza e talento.
Viva o teatro, o cinema, a TV, o circo e cada artista que se doa para fazer o seu povo sorrir, chorar, sonhar. Viva cada região deste país que generosamente nos cede um talento único, uma gotinha de luz que se une a outras e vai iluminando a nossa vida. Umas vão brilhar mais longe enquanto outras chegam; elas vêm e vão. É assim mesmo. O que adoça o nosso coração é saber que apesar das perdas e da saudade, novas alegrias nos aguardam. Podem ter certeza. Como eu sei? “Deus é brasileiro”.
Eu sou Bianca Montanas, para a coluna Arte & Reflexão, até logo!