A arte como instrumento de desinformação

[Ação & Reflexão | Coluna de resenhas descritivas e opinião] Por: Bianca Montanas.

A cultura está para o imaginário da mesma forma que a leitura, para a educação. Um povo pode ser conhecido pela cultura que cria e consome. Esta comunicação entre artistas e sociedade é constante; eles caminham juntos, num movimento espontâneo. A sagacidade de alguns, entretanto, consegue usar a arte para manipular a sociedade. Um artista pode influenciar a mente de inúmeras pessoas com suas obras, não se levando em consideração neste artigo o debate a respeito do que é ou não a verdadeira arte.

No Brasil, podemos usar como exemplo as novelas. Quem tem idade lembra por quanto tempo a TV GLOBO tentou aprovar o “beijo gay” (ou o relacionamento gay). Em horário nobre, claro. Na novela VALE TUDO em 1988, Cristina Prochaska encarnou uma lésbica. Carlos Alberto Riccelli formava um “casal golpista” com Glória Pires e nada os detinha para atingirem seus objetivos megalomaníacos. No último capítulo da novela ela se casa com um milionário e os três terminam numa piscina, num belo hotel, se divertindo muito. Para bons entendedores…

Em A PRÓXIMA VÍTIMA, de 1995 havia o jovem casal formado por André Gonçalves e Lui Mendes; em 1998, TORRE DE BABEL – aquela da “explosão do shopping”, apresentou o casal feminino formado pelas atrizes Cristiane Torloni e Cristina Prochaska (de novo). Não agradou e na primeira explosão do shopping, a personagem de Cristina morreu.

Na novela América em 2005, Erom Cordeiro e Bruno Gagliasso chegaram a gravar a cena romântica, mas esta foi vetada antes de ir ao ar. “Comoção geral”: críticas à sociedade “hipócrita”, mi-mi-mi…

 Na novela AMOR À VIDA em 2014, a emissora conseguiu: Thiago Fragoso e Mateus Solano “fecharam a obra” com o beijo do casal.

O presente artigo não é sobre beijo gay ou novela das nove; o exemplo serviu apenas para embasar o poder da arte sobre a sociedade, independente dos valores que ela (arte) defende serem ou não, representativos.

Aquele que pensa diferente passa a se sentir retrógrado em relação aos outros. Intimida-se e teme discordar na maioria das vezes. Neste ritmo, a sociedade vai mudando o seu comportamento.

O diálogo não é bem equilibrado, ao contrário. Quando a sociedade se opõe ao que vê na tela é afrontada por aqueles que não aceitam rejeição.

Na época da novela Babilônia, aconteceu um estremecimento na relação do público com a obra, e seus artistas reagiram mal. A reclamação era contra o “conservadorismo”, em tom pejorativo.

O objetivo deste artigo não é criar polêmica e nem falar de novela. O tema é desinformação na arte.

Daqui para a frente, o foco é a KGB. “Nikita Khrushchev era um especialista em alterar o passado das pessoas de modo a realizar o próprio futuro que queria para si”, diz o tenente general Ion Mihai Pacepa e o professor Ronald J. Rychlak, no livro DESINFORMAÇÃO, que embasa este estudo. Ele encontrou-se com o agente em Bucareste, para trabalharem juntos no projeto de sujar a reputação de Pio XII, para transformá-lo “no Papa de Hitler”.

O momento era propício, porque “a vítima” tinha morrido alguns meses antes e não poderia se defender.

A operação queria taxá-lo de anti-semita visando atingir o Vaticano e jogar católicos contra judeus, para distraí-los a respeito da próxima empreitada de Khrushchev  – o bloqueio militar da Berlim Ocidental. “A religião é o ópio do povo, então vamos lhes dar ópio”; teria dito ele diante de nossa testemunha. Com agentes cooptados aliados a oficiais de inteligência disfarçados, o Kremlin criou a Conferência Cristã da Paz, para ajudar a KGB a sujar a imagem do Vaticano e dos EUA em todo o mundo cristão.

Com um investimento inicial de $ 210.000, começou a correr a “informação” de que Pio XII era perseguidor de judeus.

A história precisava ser bem fundamentada e aproveitaram que Pio XII tinha sido núncio apostólico na Alemanha, para dizer que ele se tornou anti-semita e simpático aos nazistas. “Era exatamente o oposto”, declara o general Ion Pacepa. Ele confessa que a honra do Papa estava sendo atacada porque ele declarou a excomunhão dos comunistas e proibiu os católicos de votarem neles. Isso atrapalhava os planos de seus inimigos.

Através de agentes infiltrados como padres no Vaticano, foram feitas algumas cópias de documentos para dar credibilidade à mentira, baseada em “documentos originais do Vaticano”. A mentira agora é a peça O VIGÁRIO, dirigida por Erwin Piscator, membro do Partido Comunista. Ele começou no exército alemão na Primeira Guerra e foi crescendo na hierarquia do partido. Chegou a Nova Iorque em 1939 tendo como alunos Marlon Brando, Tenessee Williams, Walter Matthau, entre outros nomes de peso, até ser deportado pelo FBI.

A peça contra o Papa Pio XII não foi considerada uma grande obra, mas a difamação contra ele surtiu efeito para muitos.

Ninguém acredita que o povo brasileiro está preocupado com o beijo ou a vida sexual dos gays, mas a arte aproxima realidades distantes. Não faço aqui juízo de valor.

A arte neste caso foi usada para o que há de pior: matar. Creio que a verdadeira arte não se submete, ela é livre e cabe ao verdadeiro artista “abrir-se para ela”. O artista verdadeiro sabe que a sua criação não é independente da natureza da obra; é necessário ouvi-la. A obra artística é uma síntese, um encontro, uma interseção das duas essências – do criador e da obra criada. Por isso, uma obra forjada para difamar é só uma casca vazia. Nunca vai ter a força da verdade e da transcendência.

A revista jesuíta AMÉRICA protestou: ”… O VIGÁRIO é assassinato de reputação”. Num estalar de dedos, a maravilhosa arte teatral seduziu o público e o fez acreditar que um defensor e aliado dos judeus, era pró-nazista.

Não foi apenas o teatro, claro, foi também o “enquadramento”. Para dar ênfase à ideia, falsas informações foram plantadas nos “Adendos Históricos”, sobre os quais teria se baseado a obra.

Reprodução/DailyKenn.com

Muitos escritores “surfaram na onda” difamatória: Garry Wills, James Carroll, John Cornwell (com dois livros) foram alguns deles. O último, visto pela mídia como católico(?!) é abertamente inimigo da verdadeira fé e um agente de desinformação.

Os planos são cada vez mais ambiciosos, entrega Pacepa: “inclinar o Vaticano para que eleja Papas anti-americanos simpáticos ao Kremlin e ao seu anti-semitismo histórico há muito é o sonho de Moscou”.

A Teologia da Libertação faz parte deste plano. A América Latina foi escolhida pela KGB para atingir a Igreja Católica e contaminá-la por dentro.

As figuras mais marcantes do movimento foram Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Leandro Narloch e Duda Teixeira escreveram o capítulo “Um Olhar Matador” em homenagem a Che, no livro GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA AMÉRICA LATINA.

Segundo eles, “o argentino com frequência sugeria acabar com companheiros, diante da menor desconfiança”. Fidel era quem o detinha, na maioria das vezes.

Nos anos 60, o comunismo passava por uma crise e seus representantes queriam se desvencilhar da sua imagem.

Em Cuba, os Castro decidiram romantizar o sistema político para prevenir uma onda de revoltas e foi então que Che surgiu como ícone da Teologia da Libertação. Ele tinha sido executado na Bolívia, na época aliada dos EUA, o que permitiu colocá-lo como “vítima do imperialismo americano”. Imediatamente, a KGB ofereceu ajuda e o general agente-delator –escritor foi escalado para a missão.

A “Operação Che” foi lançada junto com o livro “Revolução da Revolução”, que louvava Che até não poder mais. Ele foi retratado pelos que o conheceram como alguém colérico, impulsivo e ávido por matar, mas isso não importa. Régis Debray, um terrorista francês e alto agente da KGB, tratou da missão de criar um herói, abusando da narrativa. Em 1970 os Castro convocaram Alberto Korda, um oficial da inteligência cubana disfarçado de fotógrafo que produziu a famosa foto do ícone, de cabelos alongados e olhar marcante.

Até seu diário foi objeto de “tratamento” pela KGB, que o nomeou “Diários de Motocicleta’. Depois vieram os filmes, peças de teatro … e Raúl Castro se gabou: “Che é o nosso maior sucesso de público”.

Há muitos agentes espalhados em todas as áreas importantes da sociedade, não apenas na arte. Não a culpo por isso, ao contrário, vejo na arte um grande impulso para a nossa salvação. Ela pode levar esperança, alegria, questionamentos profundos, conhecimento e muito mais.

O que dizer de um Ariano Suassuna e seu humor ingênuo e inteligente? Artur Azevedo, Machado de Assis, Martins Pena, França Junior, Nelson Rodrigues … Shakespeare, Molière, Ibsen e tantos outros. Em todas as manifestações artísticas, sempre vai haver aquele(s) que faz(em) a diferença. E, dentre eles, aqueles que vendem a sua vocação para uma causa.

Não há arte imparcial. Cada artista escolhe o caminho que trilha e o público decide se gosta ou não. Quanto a usar a arte ou qualquer outra função para promover a mentira e o mal das pessoas, trata-se de uma questão moral. O assunto toma outro rumo, que está fora da proposta desta coluna.

Esta é a coluna Ação & Reflexão. Até o próximo texto!

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