Especial de Natal da Brasil Paralelo – Segundo dia

O Segundo dia do Especial de Natal da Brasil Paralelo começa em alto astral. A música DECK THE HALL, de Thomas Oliphant cantada em português, dá o tom de alegria próprio do período das festas de fim de ano. Ernesto Lacombe mais uma vez apresenta o tema do debate: COMO ATINGIR O SUCESSO E ENFRENTAR AS FRUSTRAÇÕES. Presenças de Ítalo Marsili, (elenco fixo) Ícaro de Carvalho, Ana Paula Henkel, Fernando Conrado, Caio Coppola e o pianista Alvaro Siviero, responsável pela transição do real para o etéreo.

O apresentador arrisca um palpite – “acho que o primeiro passo é se conhecer, tô errado”? – jogando a bola para Ítalo. O médico responde com uma analogia ao mundo dos mamíferos: “o objetivo de muitas pessoas é se expandir e ganhar território… Para se distinguir como ser humano é necessário entender “para o que (o ser humano) foi criado”. Orienta que “o sucesso deve ser investigado no interior de cada um”, remetendo às palavras de Beethoven sobre a contradição entre liberdade e igualdade. Impossível determinar um padrão de sucesso.

Ana Paula Henkel alerta para o mal da comparação, pois cada um deve comparar-se consigo mesmo. Alguém superior a você pode servir como inspiração e não, comparação. Ela faz uma analogia com o esporte, citando grandes times que “têm todos os recursos técnicos” e “sabem atacar de todas as formas possíveis”. A melhor arma contra eles é escolher “duas ou três opções” de defesa e focar nelas. Hoje o erro é que “todo mundo quer tudo, atacar em todos os fronts”, mas é o ontem que importa. E finaliza: “o sucesso infelizmente vem da dor e a sociedade rejeita a dor.”

Ícaro é aluno do COF, do professor Olavo do Carvalho. Ele conta o exercício dado na primeira aula: descrever como ele se via no próprio enterro. Com vinte anos na época, ele se via muito rico. Hoje, entende que “sucesso é trilhar o caminho mais próximo do que Deus quer para você”… o que “Ele imaginou desde o início”. Estava faltando Deus nesta conversa. Ícaro foi alçado ao sucesso nas redes sociais, quando um vídeo seu “viralizou”. “Se a pessoa não perceber que o verdadeiro sucesso está em casa, ela se perde”. A casa precisa mesmo, estar fundada sobre a rocha.

Caio Coppola, Ana Paula e Lacombe falam em reinventar-se. Caio é formado em Direito, mas destaca a quantidade de CNPJ do seu currículo, indo do MEI até presidente de empresa S/A. Tão jovem e tão arrojado. Confessa que abandonou o mercado corporativo para tentar ser roqueiro, mas não tem nenhum talento musical. Fez Comunicação Política e foi aí que tudo mudou. O seu portfólio foi visto por um produtor, que o chamou para a rádio Jovem Pan e após um comentário sobre Roberto Campos, ele se tornou tão popular que acabou sendo contratado.

Apesar do sucesso, diz que ainda está procurando a sua “verdadeira vocação”. Cita Jesus em várias passagens da Bíblia como o Sermão da Montanha, explicando que Ele não condena a riqueza, mas aponta para o que é importante na vida: aquilo que é perene. “Os pobres de espírito são os humildes, não os vaidosos”. Caio vê diferença entre vida bem-sucedida e feliz: “felicidade é um fenômeno intrínseco”, a visão do ser sobre a própria realidade. Com a voz embargada, pensa na avó Antonieta “que foi muito mais feliz que ele” e conclui: “a felicidade é administrar a própria dor”.

O próximo entrevistado é Fernando Conrado. Formado em Ciências Sociais – Sociologia, Política e Antropologia – depois em Direito, advogou por doze anos; entretanto, foi a fotografia que o levou à realização e a encontrar-se como ser humano. Faz paradoxo dele mesmo: “dentro de mim havia as duas forças; o Conrado, personagem falador e o Fernando, gordinho, sentimental, romântico. Quando as pessoas chamavam o Conrado para fotografar, quem fotografava era o Fernando e ele era bem aceito. A arte serviu para mim como terapia”.

O conceito de modernidade-progresso para ele plantou nas pessoas a ilusão de achar que “o futuro é melhor que o hoje. Não é o futuro que puxa é o passado que empurra; a sociedade não enxerga que o que você vai ser no futuro, já está dentro de ti.” Considera a famosa frase de Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”, como a maior frase da filosofia. Cita ainda Ortega Y Gasset, que separa os homens em dois grupos: “os que estão satisfeitos ou não, consigo mesmos” e Aristóteles – “a diferença entre o bem viver e o mero viver”. Alerta para a influência negativa das redes sociais e reitera o que disse Ana Paula: “comparar-se, só consigo mesmo”.

A ontológica pergunta “o que eu fiz da minha vida?” sintetiza a passagem de todo ser humano sobre a Terra e foi também colocada por Conrado. Está difícil resumir tanta riqueza de pensamento não só de Conrado, mas de tudo que foi dito até aqui. Mas o programa ainda não acabou. O apresentador agora vai mais fundo na ferida: frustração. Ítalo Marsili inicia como sempre, com o “arquétipo da vitória” – a Cruz de Cristo.  A maior vitória não veio sem a cruz, disse ele e como ninguém pode fugir desta história, só restam dois caminhos: o da lamúria que não leva a lugar nenhum e o da vitória.

A sabedoria foi a virtude escolhida por ele como recurso necessário nesta luta diária. Ortega Y Gasset mais uma vez contribui: “eu sou eu e as minhas circunstâncias”, tema que inspira Ítalo a dizer que é importante “devorar a realidade”, desejá-la com garra, pois “só há movimento com atrito” e este é um grande símbolo da vida. Com certeza, doutor. O eterno paradoxo cristão – “não há vitória sem cruz”, ou ainda: “aquele que quiser me seguir renuncie a si mesmo, pegue a sua cruz e me siga”. É bom não duvidar de Cristo.

Ernesto Lacombe propõe agora o tema “superação na música”, para Álvaro Siviero. O exemplo de superação para ele só poderia ser Beethoven. “A vida dele foi um desastre”. Era arrimo de família, seu pai era alcoólatra e mesmo assim perseguiu a carreira musical. Cita também Sergei Rachmaninoff, que teve na sua primeira crítica uma experiência tão negativa que quase desistiu.  Foram os amigos que o impediram, por isso Álvaro enfatiza o valor da amizade. Relembra a frase que está escrita no túmulo de Francisco de Assis: “você não é melhor por te admirarem, você não é pior por te desprezarem, você é o que é diante de Deus”.

Está difícil escrever sobre este Especial de Natal; é impossível abrir mão de tantas reflexões importantes sobre a vida. O leitor precisa de um tempinho para saborear tanta coisa boa. Aos poucos para não desperdiçar nada, porque Álvaro continua: “não escolhemos a cor do cabelo, o dia que vamos nascer ou morrer… A vida da gente não é nossa. As pessoas estão ávidas pelo sucesso e não são felizes; muitas moram num apartamento com visão panorâmica e terminam seus dias sozinhas. Este é o preço das escolhas”. Sentencia: “ser bem-sucedido é ser feliz”. Vai para o piano tocar Rachmaninoff e aquela doce música-tema do filme “Em Algum Lugar do Passado”.

Ana Paula Henkel fala mais uma vez do sofrimento como elemento essencial da vitória. Segundo ela, “não há como se chegar numa medalha olímpica só vencendo”. Só as derrotas mostram o que precisa ser consertado”. Ana abre o coração: no ano dois mil, assinou “o contrato dos sonhos” e uma gravidez a surpreendeu. Teria que rescindir o contrato. O momento familiar foi dramático e seu pai foi a luz que faltava em meio à confusão. “Tantas pessoas são assoladas pela dor da morte e a vida está batendo à porta. É motivo de alegria, não de tristeza”.

Já morando nos Eua, passou a trabalhar numa ONG para ajudar mulheres que pensavam em abortar e nas conversas dava a elas seu testemunho. Muitas lhe agradeceram enviando a foto dos seus bebês e um agradecimento ao seu pai, que já tinha falecido. Foi às lágrimas e recebeu aplausos. Lacombe então conta que viu seu pai morrer na frente dele, com vinte e um anos e que isso foi uma motivação para fazer algo positivo. Fernando também conta a dor da perda de seu pai e do quanto ela foi determinante na sua vida. Dispara: “tempo fácil cria pessoas fracas”.

Caio Coppola diz que “o tempo de Deus é outro”. Agradece o fato de seu sucesso ter vindo após os trinta anos e faz piada de si mesmo, que queria “fazer barulho como roqueiro, mas acabou fazendo barulho de outra forma”. Ícaro se une a Caio para agradecer pelo fato do sucesso ter vindo mais tarde. Critica a mediocridade do pensamento “escola-faculdade-emprego-felicidade”, pois para ele o caminho “não é uma linha reta”. Todas as pessoas que ele viu crescer tiveram frustração anterior. Parece de repente, mas as pessoas que fazem sucesso hoje, estão há anos “macerando”.

Todas as personalidades escolhidas pela Brasil Paralelo fazem a diferença. Não se vê uma conversa tão séria por aí. Ela converge de novo para a família. Ícaro ensina os seus filhos a “olharem para a vida digna”. Pontua o comportamento atual de muitos casais que não querem ter filhos ou têm poucos e se sentem incomodados com quem tem três, como ele. Álvaro volta para a conversa e mais uma vez, arrasa: “todo homem quer ser rei; todo rei quer ser Deus, mas só Deus quis ser homem”. Verdade, Álvaro. E ele veio como um bebezinho frágil, no seio de uma família.

Para encerrar com chave de ouro, Ítalo Marsili lembra o exemplo de Vitor Frankl. Para superar situações tão adversas como a de um campo de concentração, ele ensinou que é preciso “estar atento às circunstâncias e aos outros”. Muitos entraram ali e se destruíram como pessoa; outros ao contrário, se humanizaram ainda mais. É preciso firmeza, serviço e aceitação. Ítalo acrescenta que é importante “amar o sofrimento, para não lamentá-lo”. Difícil? Sim, mas dá uma dica: fazer o firme propósito de “não reclamar uma só vez”.

O segundo dia está quase acabando. Ernesto Lacombe agradece a todos pela presença e faz o alerta para os fãs não deixarem de aproveitar a “superpromoção de Natal”. Sugere: “Álvaro, vamos com música”?! Claro que sim. A escolhida foi o Concerto Nº1 Para Piano, de Tchaikovsky, mas ilude-se quem pensa que só a música encanta. Não. Melhor do que a beleza da melodia é ver a paixão de cada músico dedilhando seu instrumento e particularmente, a intensidade na entrega de Álvaro. Só isto já poderia ser tema para mais um Especial da Brasil Paralelo. Quem sabe…

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