[Cultura & Variedades – Opinião]
Entretenimento e Arte são a mesma coisa? Entenda o processo de esvaziamento do Significado da Arte.
Embora soem como sinônimos, eles não são a mesma coisa. Por mais de 50 anos fomos induzidos a acreditar que Arte e Entretenimento são exatamente a mesma coisa, sem atentar para os aspectos que os diferenciam. O Entretenimento, por mais que se apresente travestido de “arte”, evidencia-se pela sua completa ausência de conteúdo e significado. Já assistiu algum filme ou peça, ou show, em que ao final você tenha dito para si mesmo: “- Ok, foi interessante, mas faltou alguma coisa…” ? Ou quem sabe você tentou analisar qualquer uma dessas obras contemporâneas, e simplesmente não conseguiu extrair qualquer mensagem mais profunda delas? Esta é a reação causada pelo entretenimento.
O Entretenimento, justamente por ser oco, é espalhafatoso e produz muito barulho, que é amplificado ao reverberar-se ad infinitum nas quatro paredes de seus moldes, estabelecidos pela indústria bilionária que o controla. Ou vai dizer que ao entrar em contato com qualquer uma das mídias mencionadas acima, ou novelas, ou séries, você já não sabe de cor e por antecedência o enredo, o desenvolvimento e o final delas? Atualmente, poucas são as obras que nos causam algum tipo impacto ou surpresa e, se causam, é pelo simples fato de estarmos condicionados a elas. Isto é mero entretenimento.
Mas, e a Arte?
A Arte tem por característica imanente a transcendência, que é sustentada por gerações através de seu significado (sentido) e significância (valor). A Arte tem o poder incrível de te dar um soco no estômago e transformar o seu modo de enxergar a vida; e cada vez que você revisitá-la, sempre retornará com um novo olhar, encontrará algo que não havia percebido antes, porque esta é a função da Arte: Ampliar a nossa Perspectiva com relação ao mundo e à realidade.
A Arte serve para nos fazer perceber tudo o que deixamos escapar por estarmos absortos em nossas tarefas do dia-a-dia, bem como nos arrebatar da realidade fria e dura, e nos mostrar que que somos muito mais do que matéria, sangue e suor: Somos Espírito, Alma, somos Vida.
Vida que atravessa séculos, cuja História é contada pela Arte.
Foi pelos indícios de sua Arte que os Grandes Impérios Antigos foram descobertos. É pela Arte cotidiana, invisível aos Monopólios do Entretenimento (isto, quando não é utilizada por ele e esvaziada de sua essência), que se mantêm vivas as memórias e as tradições de um povo.
ISTO É CULTURA.
E a Cultura é um patrimônio de todos, não de alguns poucos que se valem de alguns elementos culturais para vender Entretenimento como se fosse Arte. Por esse motivo, o engajamento das massas nos processos culturais de seu país é fundamental. Um povo que não se apropria de sua cultura, permite que ela seja manipulada por aqueles que, não só não têm compromisso com ela, como possuem o menor interesse em preservá-la. É crucial que o povo aprenda, de uma vez por todas, a diferenciar Cultura e Arte, de Entretenimento, a fim de parar de balizar seus julgamentos sobre o trabalho dos Artistas, por parâmetros baseados nas performances dos macacos adestrados bancados pela Indústria do Entretenimento. Bem como aprenda também a valorizar o próprio dinheiro suado deixando de pagar ingressos absurdos por produtos de Entretenimento, e prestigiando artigos valiosos, de preço acessível, e muitas vezes até mesmo gratuitos, de Arte.
Não adianta reclamar de leis de incentivo que vão para pseudo-artistas milionários, quando milhares pagam, com prazer, os valores exorbitantes de seus ingressos, enquanto não têm coragem para visitarem os museus de suas cidades, conhecer sua prória História, ou prestigiarem os concertos das orquestras em formação em suas igrejas ou projetos sociais. É muita hipocrisia, menosprezar o trabalho daqueles que fazem malabarismos para conseguirem pagar suas contas ao final do mês, quando não se move palha para fazer com que esse trabalho, duro e árduo, compense e seja reconhecido. Criar projetos culturais para um povo que despreza sua Cultura é jogar pérolas aos porcos!
Eu sou Clara Borges de Medeiros e esta é a coluna Cultura & Variedades. Espero que apreciem a leitura. Até a próxima!