[Artes & Variedades – Opinião e Cultura]
Em tempos onde o termo “Guerra Cultural” anda tão em alta, não consigo evitar ponderar sobre algumas questões, entre elas: O que, de fato, é cultura?
Temos duas formas de pensar a cultura. Uma delas é o conjunto de expressões artísticas e relatos que contam a História de um povo ou que a moldam ao seu propósito. E a outra é formada por todas as minúcias cotidianas que definem os traços sociais de uma determinada civilização, seja ela uma cidade, província, país ou continente. O aspecto mais fascinante disto, é que ambas são indissociáveis. As tradições de um povo definem suas expressões artísticas que, por sua vez, são a ferramenta mais poderosa para modificar essas mesmas tradições.
Esclarecidos esses aspectos, que tal refletirmos sobre o que realmente significa este termo: Guerra Cultural? Conforme mencionado no parágrafo acima, as Artes têm um poder extraordinário, frequentemente menosprezado, por serem consideradas “supérfluas”, de moldar o pensamento de uma sociedade. Por quê isto acontece?
A sociedade contemporânea foi induzida a pensar que somente o racional é o que realmente importa, que as emoções são fraqueza, que tudo o que é baseado no afeto e na sensibilidade não é científico, e que só o método científico é verdadeiro. Enquanto as pessoas acreditam nisto, sem questionar, a Arte foi utilizada, por décadas, talvez séculos, para, sutilmente, mudar a maneira do ser humano pensar e sentir. Por uma razão muito simples: a Arte atinge as regiões mais profundas do cérebro, justamente por trabalhar os aspectos emocionais, e não os racionais do ser humano.
Percebam a ironia: ao mesmo tempo em que nos dizem para confiar na ciência, usam a cultura para manipular as nossas emoções, como o Governo do Estado do Ceará, que lançou um vídeo institucional com uma atriz chorando, dizendo ter perdido o pai por tê-lo contaminado com a doença da moda. Ou, que tal os outdoors, dizendo que as crianças não devem se aproximar de seus avós neste Natal, porque podem matá-los por essa mesma doença?…
Tudo para nos convencer de que precisamos nos isolar, de que as confraternizações e os momentos em família são “perigosos demais”… E com isso, vamos mudando os nossos costumes, mudando nossas tradições, mudando nosso pensar, nosso estilo de vida… Mudando nossa Cultura.
Confesso que me dói ver orquestras tocando de máscara, músicos isolados, fazendo lives, os mais independentes sozinhos, multiplicando suas harmonias com samplers e sintetizadores. Quando foi que nos perdemos de nós mesmos?
Nos perdemos de nós mesmos, quando nos permitimos convencer de que tudo o que nos torna Humanos é supérfluo.
Eu sou Clara Borges de Medeiros, e esta é a coluna Cultura & Variedades. Espero que apreciem a leitura! Nos vemos na próxima semana.